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Avaliação do livro Lições de Arquitetura - Hertzberger


 Em outubro deste ano, foi realizada uma viagem para Diamantina-MG, que permitiu um estudo acerca da história e arquitetura da Casa da Glória, local de referência na cidade. Uma das atividades iniciadas na viagem e ainda em andamento consiste na escolha de um ambiente na casa e na elaboração de uma intervenção que permita uma ressignificação do espaço e do seu diálogo com as pessoas. O pátio interno foi a área escolhida pelo meu grupo devido às sensações que ele traz e ao potencial que possui em se tornar não só um local de transição, mas de maior permanência por se tratar de um espaço agradável e tranquilo. Juntamente com o pátio, escolhemos o dormitório vazio e os corredores adjacentes a ele. Nesse sentido, nossa proposta foi a abertura de um café que interligasse todos os espaços e trouxesse uma maior funcionalidade a eles que, a princípio, estavam sem utilização.
          Para a realização das atividades, foi estudado o livro “Lições de Arquitetura”, de Herman Hertzberger, e muitos de seus conceitos auxiliaram no processo de desenvolvimento da intervenção. Em primeiro lugar, foi estabelecido seu principal objetivo, que seria fazer com que o espaço escolhido possibilitasse uma maior permanência das pessoas em seu interior, sendo necessária a utilização de elementos que chamassem a atenção e provocassem isso. Essa situação pode ser associada com o conceito de “forma convidativa”, que, segundo o autor, diz respeito ao fato de que os projetos devem ser não só confortáveis, como também estimulantes, o que cria uma maior afinidade das pessoas com o lugar. Assim, é importante ressaltar que o fator estético tem um peso significativo. Por isso, foi escolhida a cor amarela para o mobiliário - cadeiras, mesas, bancadas e prateleiras - para contrastar com o azul e branco da casa e dar um ar de leveza.
Esse conceito também pode ser associado à uma dinâmica proposta pelo grupo que consiste na disponibilidade de fotografias de partes e detalhes da Casa da Glória em gavetas no interior do café. Essas fotos teriam como objetivo provocar ao visitante da casa uma maior investigação e observação da casa, já que o propósito seria descobrir onde se encontram esses elementos. Logo, é evidente que essa dinâmica também intensifica a interação do espaço com os visitantes na medida em que provoca uma percepção mais detalhada e cuidadosa do instituto.
Outro conceito de Hertzberger percebido no espaço é o de público e privado. O pátio interno, por ser um local de passagem poderia ser chamado de público por ser “uma área acessível a todos a qualquer momento”. Enquanto isso, originalmente, a sala escolhida era um dormitório, o que representa claramente uma área privada “cujo acesso é determinado por um pequeno grupo ou por uma pessoa”. Com a intervenção, o caráter “privado” é perdido, já que a proposta é da criação de um café que atende o público em geral e, para que seu funcionamento seja organizado e efetivo, depende do cuidado e da colaboração de todos. Além disso, a posição das bancadas atravessando as janelas e unindo o pátio com o dormitório favorece o aspecto público descrito pelo autor e a manutenção das portas e janelas da sala e dos corredores abertas contribui para uma maior sensação de acesso ao lugar, o que faz parte do conceito de “demarcações territoriais”. Outro motivo que também colabora com essa sensação de acesso é o fato de o espaço escolhido ser central na casa, então a circulação para a portaria, para o segundo andar e para a área externa é facilitada.
No processo de desenvolvimento da intervenção, foi muito pensado pelo grupo maneiras de criar o café que distanciassem do padrão conhecido: mesas redondas, cadeiras e um balcão de atendimento. Nesse sentido, nosso grupo desenvolveu um móvel que, devido à sua estrutura com diferentes níveis, permite uma maior liberdade de uso, já que suas partes não têm uma função estabelecida, sendo possível escolher o local para se sentar e apoiar sua xícara, entre outros. Além disso, não existe uma diferenciação entre os espaços de preparo do café e de consumo, fazendo com que o visitante tenha a liberdade de escolha de qual área se sentar. Essas características podem ser associadas ao conceito de flexibilidade, que diz respeito à negação de um ponto de vista e uma forma fixa, determinada. A flexibilidade gera a polivalência, que é a possibilidade de o local ser usado de diversas maneiras, como um espaço de socialização, exposição de arte e até reuniões.
Por fim, no que diz respeito à estrutura do lugar, não foi possível fazer alterações na casa devido à necessidade de preservação do patrimônio. Sendo assim, a chamada “urdidura”, ou seja, a base, foi mantida. Por outro lado, a arquitetura do espaço foi estudada para que a intervenção pudesse explorar suas características, como a verticalidade, simetria, repetição, etc. Logo, o mobiliário desenvolvido e o modo como se relaciona com o espaço e seus elementos é o chamado pelo autor de “trama”. As irregularidades, como diferenças de níveis, não foram observadas no espaço, mas foram exploradas nos bancos e nas prateleiras.

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